segunda-feira, 1 de setembro de 2014

AD2 X-R: Caindo pelo buraco do Coelho

Depois do fim
Andava distraída, chorava sem razão. Olhava a mesa ao lado vazia, onde antes o outro costumava estar, e se sentia incapaz de prosseguir. Deixou a escola.


Sedução perigosa e ilegal, garrafas de vinho barato e um maço de cigarros pretos mentolados. Quinze chamadas não atendidas. Está chovendo, mas eles continuam no beco. Então o Sr. Coelho leva Alice para o buraco, e o cachorro do dono da casa começa a latir alto. "Cachorro idiota!"
O Sr. Coelho beija uma Alice dopada de maconha e vinho barato, que tem os olhos turvos ainda por lágrimas, ela contrai os lábios trêmulos. Frenético, ele se mantém aspirando o perfume dela no pescoço, entre os seios, movendo-se rápido.  Mais uma chamada não atendida, as mãos dele estão ocupadas passeando pelo corpo úmido de Alice, não podem alcançar o telefone, que segundos atrás tocava Lovage alto.
Ele respira ofegante, ela prende a respiração. Seu cabelo laranja gruda na testa e no pescoço, eles estão deitados no chão de concreto e ela olha a chuva fina caindo do céu, mais escuro, sem estrelas, com uma lua borrada como alguém que esbarrou a mão em tinta fresca. As lágrimas confundem com a chuva. "Oh, céus, eu chorei demais, demais. Que arrependimento de ter chorado demais."
Enfim ela se entrega à embriaguês, sabe que tem outro baseado apertado no bolso do Sr. Coelho, e ainda havia vinho que, com certeza,  seria 'inteirado' pela chuva. 
Uma mordiscada no mamilo a fez voltar à realidade, como foi que chegaram tão longe? Estavam no meio da rua, praticamente. Aquele buraco era a descida de uma garagem que era num nível abaixo da rua. Ele agora provocava seu sexo, até que pôde sentí-la umidecendo. O sexo dele já estava teso e semi-exposto, como um cogumelo avermelhado. 
Ela o beijava de olhos abertos, pois se o fechava, pensava no outro, no beijo do outro, no cheiro do outro, nos braços fortes do outro: o Valete. E isso a fez umidecer ainda mais, tanto o sexo quanto os olhos. Manteve os olhos abertos, e procurava os olhos do Sr. Coelho. Olhos vermelhos provindos do verde da natureza, como ele mesmo dizia, ou da embriaguês pelos cabelos irisados de vermelho da Alice. Ela começa a agarrá-lo e puxá-lo para si, que solta um grunhido abafado de tesão.
A chuva cessa, o cachorro não. Alguém grita: "Quem está aí?" E o Sr. Coelho resmunga: "Cachorro idiota!" Alguns segundos em silêncio e então, volta a chover. O dono da casa volta para dentro, o cão pára de latir, o barulho constante da chuva respingando no telhado, nas telhas e tábuas. À frente da casa, imponentes, dois prédios inacabados. Em ruínas, meca de tudo o que decai no cenário urbano, ricamente ornado com multicoloridos grafittis e pixos de alto nível, que Alice podia ficar horas admirando. Ela mantinha os olhos abertos, o sol há muito já havia se posto, e já não sabia quantas mãos corriam por seu corpo. Deixava o tesão anestesiá-la, seu coração que já nem batia. Crescer e diminuir.
Com inesperada rudeza, o Sr. Coelho puxou-a para si e a arrancou de seus devaneios mais uma vez. Os dedos entravam e saiam da fenda úmida e quente, ele salivava enquanto a olhava nos olhos. "O que foi? Se você não quiser, vamos parar. Quer que eu pare?" Ele perguntou, parando de fato com os movimentos. Ela procurou violência nos olhos dele, mas não encontrou, se viu refletida ali e balançou a cabeça negativamente. Olhava-o fixamente, como se esperasse que os pensamentos simplesmente desaparecessem. "Relaxa, gatinha", ele pediu, voltando com as carícias e os beijos cada vez mais famintos. Em pouco tempo a mão voltou pra lá, e ela também buscou o sexo dele. Clandestinos, ilegais, mais duas chamadas não atendidas. Rapidamente ele a vira de bruços, coloca seu rosto quase contra o chão, remove o obstáculo de tecido azul e entra nela. Quente, molhado, a chuva aperta e ele prossegue, ela quase não consegue se mover, não mais olha nos olhos do Sr. Coelho, mas também incapaz de fechar os olhos. Sente vergonha e culpa e um tesão explosivo, proibido e inesperado, um calor de prazer que não se estampava em seu rosto inexpressivo; o transbordo de emoções a deixou catatonica. Ela sentiu que ia gozar, e ao mesmo tempo que chegou ao êxtase, explodiu em lágrimas. Um choro copioso, com soluços. Ele também chega ao orgasmo, tira fora à tempo, e antes mesmo de vestir-se, envolve Alice com seus braços alvos, molhados. "Olha pra mim, sou eu, eu não vou te machucar" - ele suplicou. Ela continuava a chorar, e ele a deixou ali, dentro de seu abraço, sem saber muito o que fazer. "Oh, céus, eu continuo chorando demais..." Ela se vestiu e ele também, saíram do buraco e foram procurar abrigo.
Raios cortavam cruelmente o céu. Atrás da estação imunda, protegidos pela marquise, outro cigarro preto foi aceso, a garrafa de vinho foi terminada. 
Ela se levantou do colo dele num pulo, correu pra estação e pegou o primeiro trem que passou naquele instante.... na verdade, ela tentara se jogar. Ainda tinha esperma grudado nas pernas e folhas no cabelo, rosto um pouco sujo de terra. Sem nome, sem rosto, sem endereço, apenas uma qualquer vulgar.

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Escrito em: 22/03/2014  às 20:59

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